quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Santiago Del Estero
Já estávamos no fim do passeio, foi o penúltimo dia de viagem. Tínhamos saído de La Rioja e percorrer 1050 Km para dormir em Corrientes. Pra não voltar pelo mesmo caminho cruzamos pela região sul do chaco via ruta 89 onde passamos por trechos mais desérticos do que os da ruta 16 (mais conhecida) que sai de Resistência e vai até Salta passando pela Pampa Del Infierno e aquela caixa de água enferrujada que virou um marco.
De todos as cidades em que passamos Santiago Del Estero foi a de clima mais “pesado”. Estava como parte do roteiro apenas como passagem. Como já era passado das 12h00, a fome estava grande, aliás ela anda sempre grande, ainda faltavam alguns quilômetros pra chegar em Santiago então resolvemos parar num posto de combustível localizado na cidade de Lavalle que fica bem na divisa da província de Catamarca com Santiago Del Estero. Paramos com objetivo de abastecer e almoçar, na bomba pedi ao fentista para “lhenar” e decidimos almoçar no restaurante anexo.
Sentamos numa mesa e ao lado tinham alguns caminhoneiros. Ja tinha visto que o lugar não era legal. Pedimos o almoço, um pollo com guarnições e também se demoraria muito para ficar pronto. Chacoalhando a cabeça de forma negativa a moça disse “noooo”. Falamos tudo bem, pode fazer e logo trouxe o refrigerante. Depois de uns quinze minutos sai um garoto de dentro da cozinha e sobe em cima de uma moto de trilha que estava encostada na entrada, da na partida, uma limpada no motor que voa um tufo de fumaça uns dez metros pra trás, sem retrovisores, com escape barulhento, o piá sem capacete, de bermuda, chinelo e sem camisa sai igual um endemoniado. Falamos: olha que loco.
Passa uns vinte minutos e o loco volta com duas sacolas. Numa estava o frango congelado e na outra tinha algumas saladas. Pensamos que era alguma coisa que poderia ter faltado pra oficializar o pedido dos caminhoneiros que por sinal já tinham lotado o salão do restaurante. Nessa altura já passavam de trinta minutos do pedido, a garrafa de refrigerante estava pela metade, suada e quente. Já não descia mais. Passaram mais cinco minutos e volta o piá de dentro da cozinha, sai, sobe na moto e se manda mais loco ainda, nessa quase cai no areião que tinha no pátio do posto. Passam vinte minutos ele volta com uma sacola cheia de batatas. Nisso já tínhamos chamado a moça e pedimos novamente que queríamos comer, pois a fome era grande e precisávamos chegar em Santiago até as 14h00. Pra resumir, já tinha passado mais de uma hora e nada da comida, levantamos e partimos pra Santiago. Pensamos, lá é capital e com certeza deve ter vário local pra gente fazer uma refeição decente. Engano nosso, paramos num restaurante demos uma olhada na cozinha, estava mais suja que chiqueiro de javali e quando eu olho para o churrasqueiro, um senhor barbudo com um avental arrastando no chão pior que um mecânico. Fuja, saímos à busca de outro local. Observe que aqui não é interior. Santiago Del Estero é capital e não só isso, é a cidade mais antiga da Argentina. Voltando um pouco na história do país, a origem da civilização Argentina foi impulsionada pela ganância dos colonizadores ao encontro da prata nessa região.
A história é um tanto quanto tumultuada. Colonizada por espanhóis já esteve entre as maiores potencias do mundo, derrepente aqui um dos motivos do orgulho dos portenhos da capital federal. Da ponte da safena na medicina até a caneta esferográfica o país foi berço de muitas invenções. Pra quem pensa que Buenos Aires sempre foi à cidade mais desenvolvida se engana. O desenvolvimento do país começou na região noroeste, região andina onde se localizam as cidades de Salta e mais a leste Santiago Del Estero, fundada em 1553, hoje é uma das capitais mais deprimidas e atrasadas, tanto que tivemos até dificuldade de encontrar um restaurante. A cidade lembra bastante as cidades do Paraguai. Já que estamos falando um pouco da história, outro fato interessante é que a Universidade de Córdoba é a mais antiga da América do Sul. Pelé pode até ser
melhor que Maradona, mas a Argentina já esteve e ainda acho que está à frente de seu tempo em questão cultural apesar de todas as crises.
Pra quem não sabe Buenos Aires foi berço do contrabando na América Latina, livrando a tríplice fronteira (Foz, Ciudad Del Este e P.Iguazu) desse troféu. Buenos Aires passa por severas restrições comerciais. Dessa forma impulsionou o comercio ilegal com o Brasil e potencias européias, também pelo declínio da mineração Argentina de prata.
Há alguns meses atrás já no governo da presidente Fernanda Cristina, por acaso prenderam uma norteamericana entrando no país oriunda da Venezuela com quase U$$ 800.000,00 em espécie na mala e que claro, mentiu sua origem.
Pra todo mundo ficou evidenciado o apoio à campanha da Cristina. Junto com ela também o país descriminalizou o uso da maconha e inda
um maior escândalo: legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Vamos deixar essas barbaridades pra lá.
O país é muito mais que o tango e o rock espanhol. É dono de um povo divertido, apaixonado, opinativo, orgulhoso e em boa porcentagem, culto, além das mais belas paisagens até podemos dizer do mundo.
Dizer que os argentinos são nojentos não é verdade. O que acontece são casos isolados principalmente de portenhos que viram seu país quebrar. É igual o rico depois de falir.
Voltando à viagem, veja essa foto grande a direita. É a ruta nº 89 nas proximidades de Quimili, a alguns quilômetros pra frente de Santiago Del Estero. Rodovia pavimentada apenas com uma faixa de asfalto no meio da pista, e em alguns pontos com vários buracos tanto no asfalto quanto no areião nas laterais, e pra ajudar, com costela de vaca.
Quanto aos pontos turísticos de Santiago, estes são de fato muito carentes. O que dá pra aproveitar na cidade são algumas esculturas espalhadas pelas praças como a da foto acima por exemplo. Ah existe um amplo parque aberto (foto acima) bem arborizado e bonito na saída pra cidade de Quimili. No mais arrume suas malas porque o que sobre de lucro ainda é o autódromo da cidade. Mas aí ja se trata de um atrativo para o turismo nacional da Argentina.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
A chegada em Salta "La Linda"
Nesse dia saímos bem cedo de Corrientes com objetivo de dormir em Salta. São 830 km, é uma boa quilometragem pra se fazer em um dia, mas como o Chaco argentino é composto por retas infinitas e pouco movimentado este acaba sendo é um trecho que rende bastante. Não tivemos problema algum com policiais tampouco com o carro.
Chegamos com o sol ainda bem presente eram pouco mais de 20h00, arredores da cidade agitado. Ficamos por duas noites com intenção de conhecer os atrativos urbanos da cidade. Na primeira noite ficamos no Hostel Humahuaca muito bem localizado, no centro da cidade, próximo a toda estrutura que voce possa necessitar, de valor bem em conta com banho compartido e um simples café da manhã. Temos que admitir que a estrutura física acabou não agradando muito. Só dava gringo, argentino circista, hippies e nós.
Em compensação a hospitalidade do local foi excepcional e o que mais chamou atenção, foi a forma que fomos recepcionados. hA Ha ha! Dava impressão que já éramos amigos a anos tanto por parte do atendente do hostel quanto do proprietário. Nesses locais (hostel/pousadas) bem diferente de hotéis, não comparando a estrutura de um hostel com a de um bom hotel, o afeto está sempre muito presente. O valor do ser humano é sempre evidenciado, seja você rico ou pobre, doutor ou zé. Se bem que eu acho meio difícil doutor parar em hostel. Como a exaustão era grande mas não maior que curiosidade de conhecer o bwc compartido resolvemos tomar um banho e descansar. No dia seguinte rodamos pela cidade e estacionamos o carro num local qualquer para caminhar pela área central, onde estão localizadas as lojas de artesanato local, inclusive aqui voce ja encontra chá de coca a venda, barzinhos, igrejas e prédios históricos como o cabildo nas proximidades da praça central. Na segunda noite ficamos no pequeno hotel chamado Íris, muito bom, podemos recomendar os dois cada um dentro de seu padrão. Salta é antiga, sendo a primeira região da argentina desenvolvida, isso bem antes de Buenos Aires. Composta pelo centro histórico com ruas estreitas e algumas em calçamento antigo ou concreto dilatado, e sua maioria quase todo comprometido rodeadas de pequenos prédios
históricos. É o principal centro histórico de arquitetura colonial do país. Desta época preserva o Cabildo (edifício colonial mais antigo da cidade), a Igreja e Convento de São Bernardo ainda importantes construções neoclássicas e ecléticas, como a Catedral e a Igreja e Convento de São Francisco. A Igreja de São Francisco é um dos mais belos edifícios de estilo neoclássico em toda Argentina.
Quando você sai da área central (antiga) as coisas começam a melhorar.
Surgem avenidas mais largas com ruas bem pavimentadas e compostas por edificações mais novas. A cidade como um todo é bem estruturada, nem poderia ser diferente sendo uma das principais capitais da Argentina, servida por ótimos contornos, bem sinalizada, o sistema viário com exceção da parte central é muito bom, quando nesses contornos parece que você está chegando numa grande cidade. O local mais elegante é a praça central rodeada de restaurantes, bares, igreja e comércio local, é centro de encontro saltenho. A um bom tempo secretaria de turismo da Argentina ou o governo local de Salta tem vendido a cidade como Salta “La Linda” e da pra
dizer que já é turisticamente bem conhecida assim. Se considerarmos os pontos turísticos que envolvem toda província de Salta concordo que o termo “La Linda” veio bem a calhar. Se você se restringir à cidade vai se perguntar: ta, mas por quê La Linda??? Quem não conhece pelo menos os principais atrativos da província como a quebrada de cafayate, vinículas , o trem de las nubes, a praça central, o cerro San Bernardo com seu bondinho suíço apesar de lembrar é bem mais antigo que o de Balneário Camboriú, os cactus floridos do caminho que te leva até a gelada cidade de San Antonio de Los Cobres, as Salinas Grandes, as manadas de lhamas e vicunhas que comandam
o altiplano andino, pode acabar se fazendo a pergunta. Se você vem de avião esqueça, tem que alugar um carro e percorrer por todos esses locais, não tem como passar por Salta e ignorar seus atrativos por mais distantes que sejam. A cidade também é vizinha da cordilheira dos Andes, localiza-se no fértil Vale de Lerma, a cerca de 1 187 metros de altitude. Nas últimas décadas a área urbana estendeu-se até alcançar localidades vizinhas, compondo a região que se denomina Grande Salta. É centro de uma importante região agrícola qual se foca na produção de grãos exportados
para a Europa via porto de Buenos Aires ou para os EUA e mercados do Pacífico pelo Chile.
A cidade padece de graves inconvenientes urbanísticos devido ao crescimento excessivo e sem planejamento, cresceu disforme. Outro grave problema é o trânsito como todas as cidades da Argentina, aqui não tem preferencial, é igual no Paraguai quem imbica primeiro e se mostra mais seguro tem a vez num cruzamento, é um loucura, você tem que ir, dizem que os motoristas saltenhos são mal educados, eu não percebi isso mas em Santiago do Chile sim. Mas isso é o de menos a conclusão que temos é que vale pena vir a esta cidade. Eu ia esquecendo de falar, no segundo dia fizemos o passeio do bondinho que leva ao topo do cerro de San Bernardo, vale muito a pena se puder faça, muito bonito e bem cuidado. Lá de cima você tem uma vista fantástica do toda cidade. Pra variar quando estávamos em cima do cerro o bonde estragou. Ficamos presos por pelo
menos três horas até que a empresa concessionária chamasse o engenheiro mecânico responsável pela manutenção e conserto do maquinário que segundo informações dos próprios funcionários toda estrutura foi fabricada e montada por mão de obra 100% suíça.
Vale o alerta de tomar cuidado para andar a pé pela noite principalmente pela praça do embarque para o bondinho. Quase fomos assaltados, no momento que eu tirava fotos percebi um pivete me cuidando e seguindo pra dar o bote do assalto. Como já cansei de ser assaltado e também pelo fato de sempre estar atendo as pessoas em volta peguei ele no pulo. Ainda bem que estava a uma certa distância onde não foi possível dar o bote. Mas na cabeça dele a abordagem estava certa. Então todo cuidado é pouco, por menos violento que o lugar seja sempre tem gente mal intencionada. Você pode ver mais fotos referente a Salta, acesse os tópicos de janeiro à direita do Blog...
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